Pasta e Porcini

Pasta - Do Latin, Páste, "molho misturado com farinha"

Porcini - Do Latin, Pinus e Phileo, "amante do pinheiro"

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Rolha



Talvez alguém pergunte: "Ora, rolha é lá um ingrediente?". Entendo que sim. Vejo a rolha como algo fundamental para o vinho. É ela que permite que o vinho permaneça vivo dentro da garrafa e vá aos poucos evoluindo e se desenvolvendo.

Por isso, tenho uma filosofia pessoal onde abomino o "screw cap", vulgo tampa de rosca. Não vejo isso como "moderno", "futuro", "sustentável", "solução", "ecológico" ou seja lá o que tentarem me vender. Considero isso uma bela de uma porcaria criada para maximizar os lucros sem se preocupar com o prejuízo à qualidade e às tradições.

Uma vez, quando estava em Mendoza, resolvi fazer um curso de degustação na vinícula Zuccardi (que eu recomendo pelos vinhos, apesar do que irei relatar abaixo) mais pela oportunidade de provar vários rótulos do que para aprender algo, embora sempre temos bastante a aprender, seja onde for... mesmo que seja o que não fazer/dizer. Bem, estava indo tudo muito bem, até que no fim do curso, a professora trouxe uma garrafa de um vinho deles com tampa "Screw cap" e perguntou o que achavamos. Mas antes disse que era um teste que a vinícula estava fazendo e era para vinhos jovens que deveriam ser bebidos jovens. Logo torci o nariz e disse que não gostava, em portunhol tentei explicar o por quê. Ela ouviu, mas no fim disse que gostava pois "não agredia o meio ambiente". Ok! Fim de discussão! Levantou a bandeira ecológica e ganha qualquer discussão, mesmo que seja uma falácia, uma mentira!

Desde quando uma rolha agride o meio ambiente? Por acaso ela não é biodegradável? Por acaso temos que derrubar árvores para ter uma rolha? Por favor!

O que motivou este post foi uma viagem recente que fiz a Portugal, um dos maiores produtores de cortiça, e consequentemente de rolhas, do mundo.

Estava em Lisboa e fiz uma viagem de carro para o Algarve. Era uma estrada de mais de 200km praticamente reta. O que havia nos dois lados da estrada, à perder de vista? Sobreiros! Sobreiros e mais sobreiros!



Além de milhares de milhares de sobreiros adultos, vi também grandes plantações de mudas de sobreiros, já pensando na demanda mundial crescente. Isto me deixou feliz, há esperança!

E para quem não sabe, como pode ser observado na figura abaixo, nenhuma árvore é derrubada. Apenas a casca é removida para a confecção das rolhas. E ela cresce novamente em 5 à 10 anos, dependendo do tamanho da árvore e da espessura desejada para retirada.

Sobreiro com a casca retirada


Resumindo, para esta produção, temos que plantar árvores. Árvores estas que nunca serão derrubadas! E que o produto final e extremamente biodegradável! O que existe de mais ecológico do que isso?

Nesta viagem, ainda fui premiado com a visão de um caminhão carregado da cortiça de mais alta qualidade, prontinha para ser convertida em rolhas que irão dar vida a magníficos vinhos!

Carregamento de cortiça da melhor qualidade


Muitos vinhos ficarão felizes!


Sabem, é verdade que tudo muda. Pode ser que um dia chegem a conclusão de que existe algo melhor do que a rolha de cortiça. Já passamos dos cantis de couro, para os de barro e finalmente para as garrafas de vidro. Nada impede que isso um dia aconteça com a rolha. Mas, enquanto Barolos, Brunellos, Amarones e cia continuarem utilizando rolhas, continuarei desprezando o "screw cap".

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